Como aprender pintura indígena Karajá?



Povo Indígena, ambientalismo e arte - Neste site abordaremos temas ligados a Cultura e Pintura Karajá.


"Se nos consideramos mais evoluídos pelo desenvolvimento de múltiplos aparatos tecnológicos, os nossos índios são infinitamente mais evoluídos no quesito de humanidade. A luta deles é em prol de toda a comunidade indígena, por seus valores, suas terras, suas tradições e pela natureza como essência do mundo."

COSTA e BARBOSA, 2013, p.14 ]



Produção Pedagógica do Site de Autoaprendizagem


Os conteúdos abaixo foram pensados a partir da articulação de três abordagens: o conhecer, o refletir e o fazer. Pensamento este oriundo do pensamento de Ana Mae Barbosa. 

Desta forma, o site é montado a partir de aproximações de como lidar com a pintura Karajá: 1) contextualizando; 2) conhecendo  e 3) produzindo. 

O primeiro tópico esclarece a relevância do tema e em que circunstâncias surgiram os povos indígenas, em suma, tenta responder: 'de onde vieram os indígenas e o porque de falar sobre eles?'. 

No tópico de arte se fala sobre artistas indígenas, há uma explicação do geometrismo indígena e aspectos construtivos, tais como, o dispositivo de criação e quais materiais utilizar. 

Na última parte, produção visual, há duas sugestões de como trabalhar a pintura indígena: utilizando o corpo e outra com performance artística.



1. Contextualizando 

Neste tópico são decorridos assuntos relacionados a origem dos povos indígenas, seus contextos culturais, os desafios enfrentados e a relação com o ambiente. São aproximações que permitam compreender um pouco da forma de pensar e agir dos indígenas.


1.1 Sobre a lei 11645/2008

Discutir a arte e cultura indígena pode apenas atender a lei 11645/2008, de conteúdo obrigatório da cultura indígena na escola de ensino fundamental, mas, é bem mais que isso. Nossa formação cultural é tão permeada dessa influência que muitos dos nossos educandos se surpreendem de costumes como o hábito diário do banho, comer pamonha ou chamar alguém de guri serem de origem indígena. Isto demonstra profundo desconhecimento de nossa própria origem e dos problemas vivenciados por estas nações originárias.

O origem da lei remete a LDB 9394/1996, onde se garantiu a presença das culturas europeias, africanas e indígenas no currículo escola. Contudo, apenas com a especificação da lei 10639/2003, sobre a cultura africana; e a lei 11645/2008, sobre a cultura indígenas, estes pontos passaram a ser mais frequentes nas escolas. Segundo a última lei "torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena". A lei ainda frisa que o ensino se dará  "no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras". A obediência a essa lei encontra entraves, talvez "até mesmo porque estes docentes não tinham tido, em suas formações, determinados conteúdos "[LIMA, 2008, p.24]. 

1.2 O olhar indígena sobre a questão

A pesquisadora indígena, Mirna Patrícia, demonstra que em muitos casos o trabalho efetuado em escolas são superficiais e estereotipados [2017]. E que por ser o estereótipo "geralmente imposto, segundo as características externas, tais como a aparência (cabelos, olhos, pele), roupas, condição financeira, comportamentos, cultura, sexualidade"[idem, p.29], configura um dos atos de violência. "Ainda existe muita violência acontecendo com os povos indígenas"[idem, p. 38]. 

1.3 Dentro de um olhar crítico

Dentro de um pensamento freiriano conforme Gadotti, "Conhecer é descobrir e construir e não copiar. Na busca do conhecimento, Paulo Freire aproxima o estético, o epistemológico e o social. Para ele é preciso reinventar um conhecimento que tenha 'feições de beleza'" [1997, p. 23, grifo  nosso]. Ou seja, a dimensão da beleza pode e deve ser conectada com as problemáticas sociais. 



Tourinho e Martins defendem que discutir o cotidiano é conectar o presente com o passado e projetar o futuro. Desta forma, o ensino afastado de temáticas presentes nas vidas dos educandos carecem de sentido e significado [2018]. Também Dewey defende que o conteúdo deve ser conectado com o cotidiano e imergir a partir dele; "tudo que possa ser considerado como matéria de estudo (...) deve derivar de materiais que, originalmente, pertençam ao escopo da experiência da vida cotidiana "[2010, p.95]. Dentro dessa ideia, consideramos os problemas ambientais e indígenas como fatores que impactam diariamente na qualidade de vida dos educandos e suas identidades.

Assim o material disponibilizado abaixo são peças que podem ser montadas para essa aquisição dos conhecimentos sobre pintura indígena. Há os contextos, as histórias e produções estéticas que podem ser articulados como métodos de ensino.


_______________

Referências

COSTA, Ana Clara Gomes; BARBOSA, Jordana Cristina Alves. Tradição e oralidade dos povos Xavante: o uso da câmera como transmissão de saberes. Revista Alterjor, v. 1, n. 7, 2013.

DEWEY, John. Experiência e educação. Petrópolis. Rio de Janeiro. Vozes. 2010. Col. Textos fundamentos da educação. pag.75.

GADOTTI, Moacir. Lições de Freire. Revista da Faculdade de Educação, v. 23, n. 1-2, 1997.

LIMA, Norma Sueli Rosa. O ensino de Língua Portuguesa e a Lei 11.645/2008. Linguagem em (re) vista. Niterói: UERJ, 2013. Disponível em <https://www.filologia.org.br/ linguagememrevista/15_16/01.pdf >. Acessado em 24/12/2018.

MARTINS, R. e TOURINHO, I. Ensino de Arte, Contemporaneidade e Vida Cotidiana. In: Coleção Desenrêdos, V. 11. Disponível em: <https://ebooks.fav.ufg.br/livros/11livro/capitulo1.html> Acesso em: dez. 2018.

SILVA, Mirna Patrícia Marinho da et al. Que memórias me atravessam? Meu percurso como estudante indígena. 2017. Dissertação de mestrado FAV/UFG. Disponível em <https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/8047> . 







1.4 Origem, formação, e relação com nossa cultura e meio ambiente

Sobre a origem dos povos indígenas há diversas controvérsias. Mas a teoria mais disseminada é que eles descendem de povos que ao longo de milhares de anos migraram da África para a Ásia, passando desta para as Américas pelo estreito polar de Bering, em alguns grupos e outros; provindo através de navegações pelas ilhas da Polinésia até alcançarem o atual Chile . Da América do norte e do Pacífico, levara milhares de anos para chegarem à América do Sul, fundando neste caminho diversas civilizações.

Para saber mais webpage:

https://pib.socioambiental.org/pt/Not%C3%ADcias?id=153018

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/226979-de-onde-vieram-os-indios.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/226978-tentando-entender-a-ocupacao-das-americas.shtml


Vídeo 1 - Raízes dos povos indígenas.

Intenção pedagógica: No vídeo abaixo podemos compreender as dinâmica de conflitos entre povos nativos do Brasil e os estrangeiros a partir das diferenças culturais.



Formação - No Brasil

Os principais povos  indígenas no Brasil, considerando o número de pessoas, são os Ticuna 35 mil, Guarani 30  mil, Caiagangue ou Caigangue 25mil. No Centro-oeste destacamos os:

Tupi - Os grupos indígenas de língua tupi eram as tribos tamoio, guarani, tupiniquim, tabajara etc. Todas essas tribos se encontravam na parte litorânea brasileira. Estes foram os primeiros indígenas a terem contato com os portugueses que aqui chegaram.


Macro-Jê - Raramente eram encontrados no litoral. Com exceção de algumas tribos na Serra do Mar, eles eram encontrados principalmente no planalto central. Nesse contexto, destacavam-se as tribos ou grupos: timbira, aimoré, goitacaz, carijó, carajá, bororó e botocudo.Essas tribos eram especialistas em caça, ótimos pescadores e desenvolveram bem a coleta de frutos.

Avá-Canoeiros povo da família Tupi-Guarani que vivia entre os rios Formoso e Javarés, em Goiás. Em 1973, foram pegos "a laço" por uma equipe chefiada por Apoena Meireles, e transferidos para o Parque Indígena do Araguaia (Ilha do Bananal) e colocados ao lado de seus maiores inimigos históricos, os Javaé.


Para saber mais webpage:

https://www.sohistoria.com.br/ef2/indios/p2.php

https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/os-povos-indigenas-no-brasil.htm


Vídeo 2 - Povos indígenas no Brasil.

Intenção pedagógica: demonstrar que há diferenças entre os povos indígenas o que torna inadequado tratá-los de forma generalista; neste vídeos entendemos os troncos linguísticos e alguns dos povos indígenas mais conhecidos.


Relação com nossa Cultura e Meio Ambiente

A questão da terra marca a relação entre os indígenas, nossa cultura e o meio ambiente. Atualmente os discursos predominantes são de um lado que os indígenas utilizam de forma erradas as terras demarcadas; extraindo madeira, minerais e devastando florestas. Por outro lado, é notório que a maior partes das terras indígenas são reservas preservadas que beneficiam a produção de água e  a qualidade do ar. O estranho destes dois discursos é a objetificação e alienação do principal interessado: o indígenas . Sem contexto parece que as terras foram dadas a eles sem nenhum merecimento, invertendo o processo histórico no qual os colonizadores roubaram pelo uso de violência às terras indígenas desde à chegada dos portugueses. 

Fica o fato que na atualidade, diversos povos resistem a culturalização civilizatória, e neste embate, preservam imensos espaços, que se não fossem por eles, já estariam comprometidos ambientalmente.

Esta preservação da terra nos oferece um enriquecimento cultural ao socializarem seu modo de vida intrinsecamente conectado com a natureza.


Para saber mais webpage:

https://www.significados.com.br/meio-ambiente/

https://pib.socioambiental.org/pt/%C3%8Dndios_e_o_meio_ambiente


Vídeo 3 - Projeto GATI.

Intenção pedagógica: exemplificar soluções de políticas que consideram o protagonismo indígena na gestão e preservação ambiental e desenvolvimentista.



2 Conhecendo

Aqui demonstramos como a arte é percebida pelos povos indígenas, alguns artistas com suas obras e as características visuais mais presentes. 


2.1 Povos indígenas, meio ambiente e arte 

Embora a categoria de arte seja um ramo típico do pensamento ocidental, e como categoria mental não encontre paralelo nas culturas originárias, projetamos nos desenhos, danças e cantos o que chamamos de estético. Para estes povos, a princípio, estas representações são dimensões dos seus rituais, crenças e apropriações de objetos que não fazem sentido de forma isolada como é para um não indígena. 

A princípio, pois o dispositivo artístico já foi apropriado na atualidade por diversos indígenas como a poetisa e cantora Márcia Wayna Kambeba, o escritor Daniel Munduruku, o cineasta Alberto Alvares e a artista plástica Arissana Pataxó.

Márcia Wayna Kambeba 

Daniel Munduruku 

 Alberto Alvares

 Arissana Pataxó



3 Produzindo


1a. Ação Educativa - Procurando estereótipos

Esta é uma atividade reflexiva sobre os estereótipos. O objetivo é descobrir o quanto sabemos do cotidiano nas aldeias que representam ideias equivocados ou mal compreendidos.

Passos

1a. Faça uma ilustração sobre como pensa que é o dia na aldeia. Como iniciam o dia, o trabalho, a alimentação, o lazer, o descanso, as festas etc.

2a. Pesquise na internet sobre as imagens contidas na ilustração produzida.

3a. Crie um texto destacando o que está de acordo com a sua ilustração e o que descobriu ser diferente.

Pedimos que envie sua produção visual para o email <audnan.s@gmail.com> para que possamos postar aqui suas descobertas ou comentários.


2a. Ação Educativa - Pintura  Indígena Karajá 

Características 

O grafismo indígena é aplicado em diversas situações dentro do cotidiano indígena, festas religiosas, rituais de passagem, identificação da ramo familiar dentro da comunidade etc. Seus suportes variam indo de objetos ao corpo humano. Não há regras, cada povo tem suas pinturas diferenciadas, mas abaixo estão algumas características.

Formalidade. São geometrizações planas a partir de motivos do meio ambiente como; peles, árvores, animais etc. É comum o uso de espaços positivos e negativos. A simetria é muito utilizada e a repetição de elementos simples.

Cores e Materiais. Os mais comuns são o sumo do genipapo, urucum, carvão, minerais etc, para a produção de tintas que são utilizadas em pintura corporal e objetos.


Suporte. O corpo humano, utensílios religiosos e do cotidiano. 


Arte Karajá. Escultura e pintura se unem para confecção das bonecas Karajá resultando em cerâmicas belas e originais. 

Vídeo 4 - Ritxoko - Cerâmica Karajá (TO)

Intenção pedagógica: acompanhar a prática artísticas Karajá na produção de cerâmica para uma melhor compreensão das relações entre o saber e o fazer indígena.




Para saber mais webpage:

Dissertação de mestrado de Ana Clara "Tradição e oralidade dos povos Xavante: o uso da câmera como transmissão de saberes". https://www.usp.br/alterjor/ojs/index.php/alterjor/article/viewArticle/aj7-a1

https://blog-do-netuno.blogspot.com/2010/09/pinturas-indigenas-e-seus-significados.html

https://www.brasil.gov.br/noticias/cultura/2014/11/modo-de-fazer-boneca-karaja-e-considerado-patrimonio-imaterial-brasileiro



O Museu Antropológico de Goiânia possui acervo sobre a cultura Karajá. Link abaixo:

https://museu.ufg.br/



Crie sua pintura indígena Karajá

Entendendo o contexto cultural e artístico, vistos acima, é possível nos encaminharmos para a produção visual. O objetivo não é replicar as imagens observadas, mas sim, a partir da compreensão da forma, como é criada a Pintura Karajá, abstrair formas criando pinturas. Isto pode se dar pelo Exercício proposto e também pelos planos de aula disponibilizados.


Destrichando o processo 

As pinturas indígenas são processos de abstração a partir do ambiente. Elementos como plantas e animais são simplificados de forma geométrica para a criação de texturas que em seguida são aplicadas no corpo ou em objetos como uma forma de comunicação ou dentro de rituais mágicos. 

Observe como foi feita a abstração a partir da imagem abaixo, atividade 1,  e considerando os itens de geometrismo ( Formalidade/Cores e Materiais - Tópico 2.2 ), entenda o dispositivo de criação e o utilize nas imagens das  atividades 2 e 3 propostas .

Na pintura pode se utilizar o urucum e o genipapo. Deixa-se o fruto do urucum em água por um dia e esfrega-se as sementes que liberam o pigmento para obter a tinta. O genipapo é imergido em água até apodrecer criando um líquido escuro. Para o pincel utiliza-se um folha seca de capim  ou pequeno pedaço de galho.


Exemplo passo-a-passo

imagem geradora - tartaruga

Abaixo grafismo criado a partir da abstração do casco da tartaruga

Imagem pintada


Aplicação na pele

*Foto pessoal - Morganna Alvarenga


Agora é a sua vez!

Considerando o dispositivo de abstração descrito acima, a partir de objetos naturais, crie sua própria pintura.

Proposta de atividade 1. 

Imagem geradora Onça


Proposta de atividade 2.

Imagem geradora Cobra


Dica!

Caso existam dúvidas sobre o processo ou desejem disponibilizar imagens para esta galeria, por favor enviar email para < audnan.s@gmail.com>.


3.2 Planos de aula 


Abaixo para educação regular básica, temos duas propostas de aplicação da pintura indígena. Salientamos que é importante contextualizar a produção em virtude da cultura menos fragmentada dos povos indígenas. Onde religião, conhecimento e tradição andam juntos.


3.2.1 Proposta I 


Abaixo proposta de plano de aula com o tema cultura indígena e pintura. Aula executada na Escola Municipal Benedito Soares de Castro.

* - Todos os educandos tiveram o uso de imagem autorizado pelos responsáveis em documento disponível na secretaria da escola.

Experiência Docente - Aula executada em novembro de 2018

Em novembro deste ano utilizei os conteúdos acima para uma aula sobre performance artística que cruzou as relações entre ambientalismo, cultura indígena e performance art. A ideia foi evitar a imitação de rituais indígenas e construir  um ritual-performance próprios dos educandos baseado na lenda do Bandeirante Anhanguera que dominou os indígenas do Centro-Oeste a partir da ameaça de incendiar os rios da região. Os educandos elegeram os elementos terra (problemática da demarcação), água ( elemento vital da natureza e da vida) e fogo (elemento de controle representado tanto pelo o Anhanguera quanto pelas armas de fogo). 

No primeiro momento os educandos  (crianças de 10 e 11 anos) desenharam no chão e verteram água em cabaças, tocando instrumentos e dançando. Em seguida entram outro grupo que os comprimem para o centro utilizando tochas, até que a cabaça cheia de água derrama e os indígenas desfalecem no chão quando é gritado a única palavra da apresentação ´O Anhanguera´. Ao final, a bandeira do Anhanguera é queimada. Tivemos a participação da doutoranda Mirna Patrícia Anakiri ( Arte e Cultura Visual/ UFG) que subsidiou as discussões e inclusive sugeriu a parte final da performance.

Abaixo imagens são do evento ocorrido em 12 de novembro de 2018 na Escola Municipal Benedito Soares de Castro - Goiânia/GO.

* Fotos - Arquivo profissional. Todos autorizaram uso de imagem

3.2.2 Proposta II 

Abaixo proposta de plano de aula com o tema cultura indígena e performance. 

Entre em contato conosco e nos dê um feedback sobre o material deste site: email audnan.s@gmail.com


Goiânia, Goiás
All rights reserved 2018
Powered by Webnode
Create your website for free! This website was made with Webnode. Create your own for free today! Get started