Núcleo Temático 3 - Interterritorialidade no Ciberespaço
Disciplinas: 1)Arte expandida: proximidade e diálogos entre artes cênicas, artes visuais e música; 2)Interterritorialidade: aspectos conceituais sobre as artes expandidas e a Metalinguagem no Ciberespaço; 3)

Arte expandida: proximidade e diálogos entre artes cênicas, artes visuais e música
A presença dialógica entre as diferentes linguagens artísticas sob os auspícios da metaliguagem na tecnocultura.
ATIVIDADE 1
1.1. Pesquise sobre uma obra (espetáculo, performance, etc.) onde haja a interação de pelo menos duas linguagens e faça um breve relato.

Relato Reflexivo sobre a peça "Maria
Grampinho"
Maria Grampinho foi um peça teatral criada pelo grupo de goianiense "Artes do Corpo" que ficou em cartaz de 2013 à 2015. Tendo sido apresentado em cidades de Goiás e do Distrito Federal. A obra foi o resultado da criação dos Professores Dra. Valéria Figueiredo, Dr. Alexandre Ferreira e Dra. Maria Angela Di Ambrosis. Todos da UFG. Sendo os dois primeiros da Faculdade de Dança e outra da Faculdade de Artes Cênicas. Os personagens foram interpretados por Alexandre Donizete e Luciano de Luciano de Freitas. O enredo, baseado em fatos reais, narra a história de Maria Grampinho, figura do imaginário da antiga capital do estado, Cidade de Goiás. Que conviveu com a poetisa Cora Coralina. O espetáculo tem relatos dramatizados na forma de poesias, contação de histórias dança e teatro.
No primeiro momento da cena, Maria Grampinho surge detrás da plateia com sua trouxa. O personagem tem na cabeça os famosos grampos, sua característica, veste uma blusa branca lisa, e uma saia rodada em várias camadas e cores. Interage silenciosamente com o público. Chega ao palco, saída de cena, e espalha botões coloridos. Do outro lado do palco, Cora Coralina faz uma narração enquanto Grampinho se arruma com um espelho pequeno. Ao final da narração, com a ajuda de um baluarte, se inicia a dança, a princípio somente com Grampinho, mas rompendo a estrutura, a narradora iniciar um canto que contagia a plateia criando um coro (música que surge lenta e depois se acelera ao máximo) "rei capitação, soldado, ladrão, mocinho bonito do meu coração". Enquanto Cora conta a estória, às vezes se dirigindo a Grampinho, traçando um diálogo que mistura os planos cênicos do contador da estória e seu personagem; Grampinho encena a vida de louca, por pouco querida, por muitos hostilizada e em geral isolada em seu mundo de alienação. O clímax é quando o contador de estória e o personagem dançam juntos em movimentos explosivos e concêntricos. Em seguida a energia caí, até culminar com a morte de Maria Grampinho como louca excluída, odiada por ser diferente e incompreendida.
No dispositivo criativo, Alexandre Donizete descreve sobre seu processo: "a peça sobre Maria Grampinho propõe um caminho híbrido entre dança, teatro e a arte de contar histórias" (2013, p.4). Essa interação acontece de forma aglutinada, submissa ao enredo e ao tom mais lúdico que documentário aplicado ao trabalho. A essa junção de elementos, os criadores justificam como um atitude de bricolagem "ou seja, uma capacidade de detonar novas conjugações, deslocando partes, mudando lugares, destituído tempos e construindo novos saberes" (idem). A construção de Grampinho, de sua história, é um quebra cabeça que se faz com os rastros deixados na literatura de Cora Coralina. Um juntar de peças, que ao longo da dramaturgia, configura o personagem. Assim com um colcha, descreve Dallago, "a fragmentação do sujeito a partir da busca pelo seu passado e pelo significado de sua história" (2018, p. 95) são essas reorganizações que possibilitam recriar Maria Grampinho enquanto cena que possui diversas leituras que aproximam a ludicidade da realidade.
Essa disposição de agregar os elementos, que fogem ao tradicional ocidental, é cada vez mais comum "É inegável, no panorama da arte atual e, especificamente, do teatro, o crescente diálogo instituído entre múltiplas linguagens e meios no estabelecimento de matrizes criativas para a composição de espetáculos" (idem, p.92). Neste espetáculo, o ritmo parece dar liga a variedade de elementos, a música à capela entoada pelos personagens e a plateia em momentos da cena, criam uma conexão entre contador, personagem e público. Neste ponto, o ritmo subsidia a aparente falta de metrificação no teatro já percebido por Stanislavsky (FERNANDINO, 2008). Mas diferentemente de uma cena tradicional, a música vai além de um acessório emotivo, alcança um protagonismo que supera os personagens pela capacidade de junção, não só dos elementos cênicos que coabitam um espaço, como pontua Meireles "Várias linguagens tomam corpo, forma e co-habitam em um mesmo ambiente de discursos múltiplos" (MEIRELES, 2018, p. 4), mas sobretudo entre espetáculo e plateia.
Ressalto que o hibridismo na arte deve ser encarado com uma consequência de um conteúdo expressivo. Não apenas um modismo que acredita que quantidade de elementos resulta em valor estético. Como artista gráfico, que produzo material gráfico, fotos, figurino e outros a mais de 10 anos, para diversos espetáculos como o da "Maria Grampino" citado neste texto; já vi péssimos trabalhos guiados por uma vontade de ser tecnológicos e modernosos. O uso híbrido de linguagens costuma se suceder bem quando há um conteúdo emotivo forte que direciona, filtra e descarta possibilidades. A expressão depende da articulação de cada elemento envolvido "Cada ordenação gera uma nova relação interna, com seu conteúdo expressivo" (MEIRELES, 2018, p.3).
Como observamos, o hibridismo é uma nova ferramenta a serviço da arte que proporciona caminhos inéditos a serem percorridos. Sobretudo, atual, por possibilitar o intercâmbio de diversas experiências, reforçando um sentido coletivo na criação.
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Bibliografia
CUNHA, Fernanda Pereira da Cunha. Paisagens pedagógicas Digitais: resistência, resiliência, (re)existência. 2018. 5 p. (Professora Associada EMAC/UFG) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2018.
DALLAGO, Saulo Germano Sales. Hibridismo e Fragmentação: a junção de linguagens artísticas na montagem do espetáculo Enquanto Dure. Relato publicado na Revista Urdimento, v.3, n. 30, UDESC: Santa Catarina, 2017. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/urdimento/article/view/14145731033 02017090 Acesso em 02/05/2018.
FERNANDINO, Jussara Rodrigues. Música e Cena: uma proposta de delineamento da musicalidade no teatro. Dissertação de Mestrado em Artes apresentada ao Programa de Pós Graduação em Artes da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. Disponível em: https://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/JSSS-7WKJB4/ disserta__o.pdf?sequence=1 Acesso em 11/05/2018.
FERREIRA, Alexandre Donizete et al. "MARIA GRAMPINHO" ENTRE TERRITÓRIOS E FRONTEIRAS DA DANÇA E O TEATRO". In: IV Seminário Nacional Corpo e Cultura. 2013.
MEIRELES, Tânia Mara Silva. Forma em Movimento: um diálogo entre as Artes Plásticas e as Artes Cênicas Escola de Belas Artes. Disponível em: https://portalabrace.org/vcongresso/textos/pesquisadanca/Tania%20Mara%20Silva%20Meireles%20-%20%20FORMA%20EM%20MOVIMENTO%20um%20dialogo%20 entre%20as%20Artes%20Plasticas%20e%20as%20Artes%20Cenicas.pdf Acesso em 08/05.
Texto para download abaixo.
ATIVIDADE 2
1.2. Teça reflexões entre seu relato e um ou mais dos textos disponíveis nos links indicados para esta atividade.Poste seu texto, contendo o relato e as reflexões em um arquivo único, com as devidas referências e identificação.
Arte e tecnologia na obra Kage-table do grupo PAPLAX [1]
Conforme o grupo PAPLAX[2] , Kage-table é uma interação entre sombras, expectador e a consciência. Esta obra foi publicada no FILE (Eletronic Language Internacional Festival) do Rio de Janeiro em 2018. Ela consiste numa mesa (tela) que suporta dez cones coloridos espaçados um dos outros que possuem sobras animáveis pelo toque, fazendo surgir animais, arco-íris, pássaros etc. A dinâmica se estabelece pela iniciativa do espectador ao tocar os cones. Assim, se inicia um jogo de sombras e luzes, que criam formas e que finda na escuridão.
As sombras possuem um fascínio sobre o homem desde de muito tempo. Na pré-história as conexões entre a realidade e o mundo não real (espiritual) se davam em rituais mágicos dentro de cavernas e ao redor de fogueiras que projetavam efeitos luminosos contrastantes nas paredes. Supõem-se que muitos destes rituais contiam o uso de alucinógenos que alteravam a percepção da realidade. Essa percepção alterada, possivelmente, interagia com as projeções de sombras e criavam imagens fantásticas nas mentes destes povos. No período clássico, Platão novamente utiliza a sombra em sua alegoria para diferenciar realidade e não realidade, verdade e ilusão. São as sombras e luzes no período Barroco que dominaram as pinturas, como as de Caravaggio, para controlar o que é inteligível, verdadeiro e elevado. Sombras e luzes foram a matéria prima do barroco, período dicotômico da arte e da vida, conflituoso entre salvação e perdição, verdade e mentira luzes ou sombras. Neste momento o espetáculo ganha uma proporção nunca antes vista. A televisão a pouco tempo foi denominado por Gui Debord um espetáculo que falseava a realidade de forma perigosa.
Kage-table se insere nesta narrativa, atualizada claro, com os dispositivos contemporâneos. Temos elementos que jogam com sombras, criam um outro mundo. O espectador passa a ser um curioso que aperta botões, o protagonismo fica confuso e conforme Manovich já anunciava: o aspecto técnico se sobrepõe a genialidade (BERNADINO, 2010). A arte de Kage-table é divertida, ao meu ver. Mas fico pensando, que depois de manusear todos os cones, ver todas as sombras indo e vindo, quanto tempo conseguiria fluir esta obra? Onde está o mover de mundo e sentimentos solicitado por Bernadino, que a arte disponibiliza? (Idem). Não estamos diante de um espetáculo alienante? Algo que Arlindo Machado chama de "uma apropriação indiscriminada de uma quantidade imensa de códigos da realidade cotidiana que o resultado se apresenta como um produto carregado de um relativismo arrivista, autista e acrítico, um atitude mais preocupada com o efeito" (idem, p. 52). Estas questões são imputadas a arte tecnológica segundo o pensamento de Teresa Cruz "em que medida os novos meios em jogo alteram a relação entre a experimentação técnica e experimentação artística," (Bernadino, apud, CRUZ, 1999, p.429).
A expectativa que, eu particularmente, crio sobre a arte; abrange mais que esquemas lógicos e interfaces dialogáveis (SANTAELLA, 2018), como parece ser a obra Kage-table. Em minha experiência pessoal, O Grito, de Munch; me fez compreender toda um sentimento de época que reverberava entre os problemas psiquiátricos do autor e sua sociedade niilista. Esta pintura revelou algo para min intraduzível por outra maneira. O que revela Kage-table?
Difícil pensar a arte sem criatividade e esta implica em inspiração e reflexão segundo Bernadino (idem). Mas me parece que muitas das artes tecnológicas atuais estariam mais bem situadas em parques de diversões que em exposições artísticas. Após uma exposição como a FILE, que reflexão temos? Em contraponto ao Kage-table e para demonstrar que a arte pode sim ser tecnológica, reflexiva e inspirar; relembro o trabalho de Waldemar Cordeiro, A mulher que não é B.B. de 1971. Nesta obra, observo o uso da tecnologia como algo necessário para causar a catarse reflexiva. A imagem proposta sugere não uma ilusão ou espetáculo; mas nos convida a uma imersão na dura realidade humana da guerra, vaidade e etnocentrismo, da qual todos nós somos vítimas e colaboradores. É um trabalho que fica em nossas mentes. Mesmo quando sua presença é retirada.
Mais que bocas abertas de surpresas ou espantos, como é comum em exposições como a FILE. Procuro ainda na Arte tecnológica, a expansão de nossa percepção através de reflexões sobre um belo que expresse nosso sentimento de época quanto a carência de humanidade.
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Imagem
Disponível em : <https://file.org.br/wp-content/uploads/2017/10/rejane-cantoni-e-leonardo-crescenti-tunel-1.jpg> Acessado em 16 de junho de 2018.
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Bibliografia
SANTAELLA, Lucia. A tecnocultura atual e suas tendências futuras. Signo y Pensamiento, [S.l.], v. 30, n. 60, p. 30-43, may. 2012. ISSN 2027-2731. Disponible en: <https://revistas.javeriana.edu.co/index.php/signoypensamiento/article/view/2408>. Fecha de acceso: 16 jun. 2018
CRUZ, Maria Teresa. Experiência e Experimentação: Notas Sobre Euforia e Disforia a Respeito da Arte e da Técnica, Comunicação e Linguagem nº 25/26, Lisboa, 1999, p. 429.
BERNARDINO, Paulo. Arte e tecnologia: intersecções. ARS (São Paulo), São Paulo , v. 8, n. 16, p. 39-63, 2010 . Available from <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S1678- 53202010000200004&lng=en&nrm=iso>. access on 15 June 2018. .
[1] - imagem em anexo e vídeo disponível em < https://youtu.be/FhZSqywtJPs>.
[2] - PAPLAX: grupo de artistas composto por: CHIKAMORI Motoshi, KUNOH Kyoko, KAKEHI Yasuaki e OHARA Ai.
ATIVIDADE 3
Crie coletivamente uma obra artística que estabeleça o diálogo com mais de uma linguagem artística e que utilize recursos tecnológicos, seja em sua concepção, seja em sua constituição. Poste a obra ou o registro audiovisual desta no fórum (ou, se for o caso, o endereço eletrônico para visualização desta).
Trabalho composto pelos cursistas: Audna Abreu Silva; Celia Laranjeira da Silva; Fabiane Clemonez A. Miguel.
O presente trabalho foi pensado, discutido e elaborado em torno da narrativa da gestação e sua relação com a poesia, dança e música. A performance relaciona-se com o texto "Hibridismo e Fragmentação: a junção de linguagens artísticas". Nesse contexto, vale ressaltar que o hibridismo das diferentes linguagens artísticas é relevante para que a performance possa alcançar todos os objetivos e promover a reflexão da dança, da poesia e da música com a gestação. A interpretação da bailarina através das imagens demonstra como a vida se torna um grande espetáculo onde interpretamos a todo momento nas mais diversas situações em que vivemos. Os movimentos sincronizados são traduzidos para o corpo da gestante ao mesmo tempo em que sua bebê se movimenta em vida intrauterina transformando tudo em um grande sentimento de amor e sensação.
Portanto, a interação da poesia, da dança e da música por meio da animação, enriquece a tecnologia, tornando-a mais bela. É a junção dessas artes que cria o espetáculo e, quem sabe, pode gerar em cada um de nós frutos de esperança, amor, carinho e amizade.
Legenda:
Animação: Audnã Abreu Silva
Poesias: Celia Laranjeira da Silva
Imagens: Fabiane Clemonez A. Miguel
Música: "9 meses" - Bárbara Dias.
A vida nos foi dada por Deus
E a oportunidade de gerar outra vida também
Gerando em cada mãe o movimento do amor
Realizando o movimento da vida
ATIVIDADE 4
Apresente no fórum um relato sobre sua participação na criação coletiva desenvolvida na
Relato minha participação como o integrante do grupo que resolveu as questões técnicas ligadas ao desenvolvimento da ideia. Como artista visual, pude colaborar desenhando as imagens que foram animadas. A partir das discussões dos integrantes, a música, e a poesia optei por uma dinâmica de traço que evoluisse de quase garatujas para um detalhamento renascentista, com o fim de, desenvolver uma sintonia que expressase crescimento e maduração. O ritmo em saltos é um reflexo do processo de evolução do mais simples ao mais complexo, a dimensão orgânica da gestação. A opção monocromática e o cenário limpo potencializam o foco na mensagem. O tempo curto da animação busca se adequar ao nosso sentimento de época acostumado a rapidez dos meio eletrônicos. Agradeço minhas parceiras por esta oportunidade.
Atenciosamente.
Interterritorialidade: aspectos conceituais sobre as artes expandidas e a Metalinguagem no Ciberespaço
Fundamentos sobre interterritorialidade intrínsecos ao conceito das artes expandidas presentes no ciberespaço. O conceito de metalinguagem como um novo estado da menta humana: a mente digital.
Eixo 1 - Elaboração de um texto, de a 800 a 1000 palavras, que leve em
consideração as noções de Representação, Imaginário, Contexto histórico
(PESAVENTO, 2005) Identidade (SILVA, 2007), Cotidiano (CERTEAU, 2007),
tendo em vista as artes em processo de interação metalinguística (ROSA,
2013 e 2016).É fundamental ter objetos
artísticos (música, literatura, pintura, imagens fílmicas etc) como
ponto de partida para desenvolvimento das reflexões.
Texto
Representação de Gauguin a Stelarc
A arte vem ao longo dos séculos colocando discussões que impulsionam o ser humano a refletir sobre questões ligadas ao que vai além da simples sobrevivência. Atua sobre o campo do imaginário; mas não sentido de algo despregado da realidade e sim: "um sistema de ideias e imagens de representação coletiva que os homens, em todas as épocas, construíram para si, dando sentido ao mundo." (PENSAVENTO, 2012, p.23). Não é a arte a única forma de conhecimento que lida com o imaginário, porém, a arte propõe estranhamentos e conflitos, em vez de estabelecer ordens ou respostas. "O imaginário comporta crenças, mitos, ideologias, conceitos, valores, é construtor de identidades e exclusões, hierarquiza, divide, aponta semelhanças e diferenças no social. Ele é um saber-fazer que organiza o mundo, produzindo a coesão ou o conflito." (idem).

Falo do conflito de Paul Gauguin (1848-1903), que, após ter deixado uma vida regular e confortável na França do século XIX, se refugiou na Polinésia na busca de uma imagem que representasse essa busca. Uma imagem que revelasse a riqueza de suas experiências e memórias: "há uma transformação da memória quando ela é fixada em algum suporte. Torna-se mais evidente sua dimensão de poder, no caso, quando se constrói uma documentação, seja ela escrita, visual ou sonora" (CATROGA apud ROSA, 2013, p.362). Seu último quadro, De onde viemos? O que somos? Para onde vamos? (1897) vai além dos deslumbres do contraste simultâneo e revela a fragilidade de corpos seminus e silenciosos em ações cotidianas. E nos dias de hoje? Qual a importância desse título de quadro? Como lidamos com estas questões que acompanham o ser humano desde que ele adquiriu consciência de si mesmo?
Outro artista que lida com essa temática e provoca debates é Stelios Arcadiou (1946 - Chipre), ou, mais conhecido como Stelarc. Ele maneja aparatos tecnológicos, seu corpo, máquinas, internet e trabalha com o futuro do corpo.
A arte de Stelarc joga com próteses que potencializam as funções do nosso corpo biológico. Ao seu ver, este corpo está ficando obsoleto para os padrões tecnológicos do nosso tempo e no futuro próximo, a mistura homem-máquina produzirá corpos artificiais mais eficientes e duradouros.

A obra The third hand é um exemplo. Nela o artista implanta uma terceira mão mecânica. A ideia é problematizar o uso de próteses. O terceiro braço é uma representação extremada do hábito de implantes. Mas que é comum há séculos se pensarmos que pernas de pau, dentaduras e perucas também se enquadram na categoria de próteses corporais. A obra, ao manipular estas categorias de símbolos, mexe em nosso imaginário por lidar com os limites do corpo. Nossa identidade no sentido de invenção histórica fica em xeque. "A identidade e a diferença são criações sociais e culturais." (SILVA, 2007, p. 2). Portanto, modificáveis segundo os contextos, inclusive técnicos.
Se nossa existência, nossa vida é suportada pelo corpo; para onde vamos no futuro se pudermos substituir cada vez mais partes naturais ineficientes por outras artificiais mais eficientes? Até que ponto isso modificaria nossa identidade? A arte de Stelarc desestrutura a própria representação do que é ser humano. Como Certeau (2007) nomeia: uma arte da memória "uma inversão, uma mudança de ordem ou de lugar, uma passagem a algo diferente, uma "metáfora" da prática ou do discurso." (idem p.163). São estas inconsistências que nos levam a reflexão de como incorporamos práticas cotidianos que caem no padrão de normalidade e, portanto, invisibilidade. ", existe uma estranheza do cotidiano que não vem superfície, ou cuja superfície é somente um limite avançado, um limite que se destaca sobre o visível" (idem, p. 172). Cabe a arte revelar, por a vista, reapresentar ou representar o nosso modo de vida de forma questionadora.
É com o auxílio da arte que nos lançamos para um patamar transcendente onde o imaginário reordena o mundo e desloca o nosso ponto de vista. Por vezes, esse movimento causa estranhamentos. Esse estranhar é, nada mais do que, a sensação de encarar o desconhecido; de imergirmos num campo de signos novos que nos convidam a reelaborar nossos paradigmas e representações de mundo.
Gauguin não obteve uma boa recepção de sua arte na Europa em seu tempo. Não houve uma quantidade suficiente de pessoas capazes de entender seu discurso. "Na análise feita sobre as produções culturais da sociedade capitalista, Walter Benjamin conseguiu trabalhar com o imaginário social, mostrando que, para proceder à leitura de uma época, era preciso decifrar as suas representações." (PENSAVENTO, 2012, p.14). A crítica o viu como um desajustado, ao representar o corpo e a sensualidade como coisas naturais do cotidiano. Um ranço que teve sua origem num medievo católico que percebia o corpo como uma prisão do espírito, sujeito as tentações diabólicas do sexo que era um pecado grave. A sociedade da época se negou a entrar no campo de signos que Gauguin habitava; pelo contrário, demonstrou que ele não era bem-vindo com sua forma de sentir romântica. Romantismo e sentimento sempre atrelados: "imaginário, considerando-os como uma forma de construção da realidade histórica. Como diria Baudelaire, o romantismo estava na maneira de sentir." (PENSAVENTO, 2012, p.10).
O jogo de signos que Gauguin propunha não tinha leitores capazes de entender sua visão de mundo. Cabendo-lhe um retorno para o que ele acreditava ser um lugar de pureza e liberdade: a Polinésia. Seu conturbado retorno foi acompanhado de questões, que mais tarde representaria na obra citada.
Stelarc joga com representações de um futuro possível, seu imaginário é por vezes assustador; mas sobretudo ele nos propõe as mesmas perguntas de Gauguin. O que somos? Para onde vamos? Suas obras acompanham nosso sentimento de época, onde as tecnologias e as linguagens se misturam desenhando um cenário intimidador e repleto de incertezas.
Infelizmente não cabe a arte dar as respostas. Há outras áreas de conhecimentos para prover explicações plausíveis. Diferentemente da história, que é uma narrativa coletiva, a arte trata de nossa narrativa subjetiva. Como um espelho, ela reflete seu observadores o só discursa sobre quem a encara utilizando os signos dele mesmo.
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Bibliografia
CATROGA, Fernando. "Memória e história". In: Sandra J. Pesavento (org), Fronteiras do milénio. Rio Grande do Sul: Editora Universidade UFRGS, 2001, p. 45.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano, (vol 1). Petrópolis: Editora Vozes, 2007.
PESAVENTO, Sandra Jatahy P472hHistória & História Cultural/Sandra Jatahy Pesavento-3.ed. -Belo Horizonte : Autêntica,2012 132p. (Coleção História & Reflexões,5)ISBN978-85-7526-078-4.
ROSA, Robervaldo Linhares. Ao som do chan, chan. Memórias de histórias e musicas em Buena Vista Social Club. BRITO, E. Z. C de; PACHECO, M. A e ROSA, R (orgs). In: Sinfonia em prosa: diálogos da história com a música. São Paulo: Intermeios, 2013.
SILVA, Tomás Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença, In: SILVA, Tomás Tadeu da. (Org.). HALL, Stuart, WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Ed. Vozes, 2007.
Eixo 2
Vídeo sobre uma representação musical.
Manguebeat
Projeto de ensino em Arte/Educação 1 - Metodologia II - O papel das tecnologias digitais na e-arte educação: O mercado cultural internacional versus educação intermidiática crítica.
Momento 1
Estudo do texto "Conceito e categorias. In: GOHN, Daniel Marcondes. Autoaprendizagem musical: alternativas tecnológicas. Annablume, São Paulo, 2003. ".
Leitura analítica abaixo.
Momento 2
1.1 - Leitura analítica do capítulo intitulado O Computador. In: GOHN, Daniel Marcondes. Autoaprendizagem musical: alternativas tecnológicas. Annablume, São Paulo, 2003.
Leitura analítica abaixo.
Momento 3
Sistematizar da versão final de seu plano pedagógico de autoaprendizagem (TCC/PCC); Ação 1.1 - Colocar o planejamento do plano pedagógico de autoaprendizagem do centro de interesse do estudante em ação. Preferencialmente para educação básica em seu site pedagógico.
Momento 4 - Aspectos da utilização das tecnologias no ensino da Arte / Autoavaliação discente sobre a autoaprendizagem.
Autoavaliação abaixo